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Mito   da   Criação   Boshongo   (Banto)

 

No início de tudo existia apenas a escuridão, a água, e o grande deus Bumba.

Um dia Bumba sentiu muita dor de estômago e vomitou o sol.

O sol secou um pouco da água, e sobrou um pouco de terra.

Ainda com muitas dores, Bumba vomitou a lua, as estrelas, e alguns animais: o leopardo, o crocodilo, a tartaruga, e, por fim, alguns homens, um dos quais, Yoko Lima, que era branco, assim como Bumba.

 

 

Mito   da   Criação   Dogon

 

No início dos tempos, Amma (um deus supremo que vivia nas regiões  acima dos céus, e  que deu origem à toda a criação) criou a Terra e imediatamente se uniu à ela, em casamento.

Mas o clitóris da Terra se opôs ao pênis masculino. Então, Amma destruiu a circuncisão de sua esposa Terra, e eles tiveram um filho, Ogo, e os gêmeos, o Nommo. Ogo não tinha parceiro e era estéril, por isso, ele trouxe confusão ao mundo por cometer incesto com sua mãe, a Terra. O primeiro sangue menstrual veio desta união, assim como Yeban e Andumbulu, os espíritos do submundo.

Amma criou as estrelas jogando pelotas de terra para o espaço. Ele criou o sol e a lua modelando duas tigelas de cerâmica brancos, uma foi coberta de  cobre vermelho, e a outra com cobre branco. Os negros nasceram sob o sol e os brancos sob a lua.

(Este último parágrafo foi citado na obra de L. V. Thomas, Les Religions de L'Afrique Noire, Paris, 1969)

 

 

Mito   da   Criação   Efik    (Nigéria Central)

 

O criador, Abassi, inventou dois seres humanos e, em seguida, decidiu não lhes permitir viver na Terra.

Mas a sua esposa, Atai, convenceu-o a deixá-los viver nela. Assim, com a intenção de controlar os seres humanos, Abassi insistiu em fazer todas as suas refeições com ele, para vê-los crescer e caçar seus alimentos. Mas Abassi os proibiu de procriarem.

No entanto, assim que a mulher começou a cultivar os alimentos na terra, tanto o homem como a mulher não apareceram mais para comerem com Abassi. Então o homem se juntou com a sua esposa nos campos, e em pouco tempo nasceram suas crianças.

Abassi culpou a sua esposa Atai pela forma como as coisas se desenrolaram. Atai, então, prometeu ao seu marido que iria fazer alguma coisa para mudar isso.

Então, Atai enviou Morte à terra e também a Discórdia para manter as pessoas nos seus lugares. 

 

 

 

Mito   da   Criação   Ekoi   (Sul   da   Nigéria)

 

No início do mundo, na criação de todas as coisas existiam dois deuses, Obassi Osaw e Obassi Nsi.

Os dois deuses criaram todas as coisas juntos.

Mas Obassi Osaw decidiu viver no céu e Obassi Nsi decidiu viver na terra. O deus no céu deu luz e umidade, mas também trouxe a seca e as tempestades. O deus da terra alimentava, e levava as pessoas de volta para ele, quando morriam.

Mas um dia, muitos tempos depois, Obassi Osaw fez um homem e uma mulher, e os colocou sobre a terra.

Eles não sabiam de nada, então Obassi Nsi lhes ensinou a plantar e a caçar para obterem comida.

 

 

Mito   da   Criação   (Etiópia)

 

Wak era o deus criador que vivia nas nuvens. Ele segurava a cúpula do céu a uma distância bem longe da terra e a cobriu com estrelas.

Ele era um benfeitor e não um vingador.

Quando a Terra era plana, Wak pediu ao homem para que fizesse o seu próprio caixão, e quando o homem o fez, Wak colocou-o dentro e enterrou-o na terra.  

E durante sete anos ele fez cair chuva de fogo do céu, e assim as montanhas foram formadas. Então Wak desenterrou o homem da terra e o homem brotou, vivo.

O homem já estava cansado de viver sozinho. Então, Wak colheu um pouco do seu sangue e, depois de quatro dias, o sangue se transformou numa mulher.

E o homem se casou com ela.

Eles tiveram 30 filhos. Mas o homem ficou com vergonha de ter tantos filhos assim, então ele escondeu 15 deles.

Wak, logo depois, fez com que as crianças escondidas se transformassem em animais e demônios.

 

 

Mito   da   Criação   dos   Fans   (Banto)

 

No início não havia nada, somente Nzame.

Nzame era um ser, dividido em três seres, ao mesmo tempo: Nzame, Mebere e Nkwa.

Uma parte de Nzame criou o universo e a terra, e lhe trouxe a vida.

As outras três partes da Nzame estavam admirando esta criação, e então decidiram criar coisas para colocar na terra. Deste modo eles criaram o elefante, o leopardo e o macaco, mas ainda queriam criar coisas melhores.

Então, os três fizeram uma nova criatura, parecida com eles, e chamou-a de Fan (poder), e lhe disse para governar a terra.

Não passou muito tempo e Fan foi crescendo arrogante. Ele maltratava os animais e parou de adorar Nzame.

Nzame, irritado, enviou trovões e relâmpagos `a terra e destruiu tudo o que havia...só não destruiu Fan, porque Nzame prometeu que ele jamais morreria.

Nzame - na forma de Nzame, Mebere e Nkwa - decidiu renovar a terra e começar tudo outra vez, do nada. Então ele cobriu a terra com muitas coisas, e colocou uma árvore sobre ela.

Da árvore caíram muitas sementes, e destas sementes cresceram mais árvores.

Então, as folhas que caíam das árvores nas águas se transformavam em peixes. E as folhas que caíam na terra se transformavam em animais.

A terra seca, que estava bem debaixo se transformava em carvão. Nzame fez um outro homem, que nada sabia sobre a morte, e chamou-o de Sekume. Sekume foi formado por uma  mulher, Mbongwe, a partir de uma árvore.

Essas pessoas foram feitas metade Gnoul (corpo) metade Nissim (alma). Nissim dá vida a Gnoul. E, quando Gnoul morre, Nissim vive. E desta maneira eles tiveram muitos filhos e cresceram.

 

 

Mito   da   Criação   Wahungwe   (Zimbábue)

 

Maori criou o primeiro homem, Mwuetsi, que se transformou na lua.

Maori deu-lhe um chifre cheio de petróleo (ngona) e disse para ele viver no fundo das águas.

Mwuetsi não quis e disse que queria viver na terra. Maori não queria, mas concordou e disse para Mwuetsi que iria lhe tirar a imortalidade.

Depois de um tempo Mwuetsi queixou-se de solidão, assim, Maori lhe enviou uma mulher, Massassi (a estrela da manhã), com uma ordem: que eles dormissem, cada um, em lados opostos de uma fogueira.

Mas uma noite Mwuetsi saltou sobre a fogueira e tocou Massassi com um dedo que tinha umedecido com petróleo (óleo ngona).

Massassi era enorme, e logo deu origem às plantas e às árvores, até toda a terra estar coberta por eles.

Dois anos depois, Maori levou Massassi para bem longe.

Mwuetsi chorou durante oito anos, até que Maori lhe enviou outra mulher, Morongo (a estrela da noite), dizendo que ela poderia ficar com ele por apenas por dois anos. Na primeira noite Mwuetsi tocou-lhe com o dedo cheio de petróleo (óleo ngona). E Morongo lhe disse que ela era diferente de Massassi, e que eles poderiam colocar óleo nas costas um do outro e manter relações sexuais.

Eles fizeram isso naquela noite, e em todas as outras noites, também.  E, assim, todas as manhãs, Morongo dava à luz os animais da criação.

Em seguida, ela deu à luz a meninos e meninas humanos, que cresciam de uma hora para a outra, na noite.

Maori mostrou o seu descontentamento com uma forte tempestade, e disse a Mwuetsi que ele estava acelerando a sua própria morte com toda essa procriação.

Morongo, sempre tentando-o, instruiu Mwuetsi para construir uma porta para a sua casa,  para que Maori não pudesse ver o que eles estavam fazendo. Ele fez isso, e eles dormiram juntos novamente. E aí, pela manhã Morongo deu à luz muitos animais violentos, tais como: cobras, escorpiões e leões.

Uma noite Morongo disse a Mwuetsi para ter relações sexuais com suas filhas. E assim Mwuetsi o fez. Foi isso que deu a ele a paternidade para toda a raça humana.

 

 

Mito   da   Criação   Yoruba:

 

No princípio era apenas o céu em cima e a água debaixo. O deus principal, Olorun, governava o céu. E a deusa Olokun governava tudo o que estava embaixo.

Obatalá, um outro deus, começou a refletir nesta situação. Assim, ele foi até Olorun e lhe pediu permissão para criar uma terra seca para todos os tipos de criaturas que habitassem ali.

Olorun lhe deu permissão, então ele procurou o conselho de Orunmila, o filho mais velho de Olorun e o deus da profecia.

Orunmila lhe disse que ele precisaria de algumas coisas. De uma corrente de ouro, grande o bastante para alcançar bem abaixo da terra; de uma concha de caracol cheia de areia; de uma galinha branca; de um gato preto,  de uma mudinha de palmeira e de um saco bem grande.

Todos os deuses contribuíram com o ouro que tinham, para fazer a corrente, e Orunmila deu as linhas para costurar um grande saco.

Quando tudo estava pronto, Obatalá se pendurou numa corda, num cantinho do céu, colocou o imenso saco por cima do ombro e começou a descer. Quando chegou ao final da corda, Olorun viu que  ainda faltava muito a percorrer.

La de cima, no meio do céu, Olorun ouvia Orunmila, que lhe instruía a derramar a areia da concha do caracol e libertasse imediatamente a galinha branca. Olorun fez como lhe foi dito. E, após soltar a galinha na areia a galinácea começou a se coçar. Onde quer que a areia fosse jogada, ela  formava uma terra seca, e muitas pilhas, cada vez maiores, se transformavam em montanhas e os punhados de pouca terra se transformavam em vales.

Obatalá saltou sobre um monte e chamou o lugar de Ife.

A terra seca, agora se espalhava por lugares em que não mais podia se ver.  Olorun cavou um buraco, plantou a palmeira, e viu que ela crescia na hora, até ficar bem alta, em segundos. Da palmeira madura caíram frutos, que cresceram na mesma hora.

Obatalá pediu a ajuda do gato.

Mas os meses se passaram, e Olorun estava cansado. Parecia tudo igual. Um dia igual ao outro.

Então, ele decidiu criar seres iguaizinhos a ele,  para lhe fazer companhia. Ele cavou na areia e logo encontrou barro para moldar figuras, assim como ele. E ele começou o seu trabalho, mas se cansou logo e decidiu parar um pouco.

Ele fez vinho de uma palmeira das proximidades, e bebeu várias tigelas de vinho, uma após outra.

Isso deu ânimo a Obatalá para voltar à sua tarefa. Só que ele estava muito bêbado.  E, assim, por causa de sua condição, ele formou muitas figuras tortas, imperfeitas. Sem perceber isso, ele pediu para Olorun para dar vida às suas criaturas.

No dia seguinte, ele percebeu o que tinha feito - criou todos os seres humanos cheios de falhas - e jurou nunca mais beber. E, para cuidar daqueles que estavam imperfeitos, transformou-se no Protetor dos Deformados.

As pessoas criadas construíram cabanas, do jeito que Obatalá havia construído a sua, e, logo, Ife cresceu e se tornou uma cidade.

Todos os outros deuses ficaram felizes com o que Obatalá tinha feito. Por isso eles visitavam a terra, muitas vezes. Mas Olokun, o governante de tudo abaixo do céu, nunca mais pisou na terra.

 

 

Mito   da   Criação   (Zimbábue)

 

Modimo era o criador.

Era ele quem distribuía todas as coisas boas. Modimo apareceu no Leste e pertencia ao elemento água. Mas Modimo, ao mesmo tempo, era um destruidor, uma criatura terrível responsável pela seca, pela chuva de granizo, pelos ciclones e terremotos.

Quando estas coisas aconteciam, Modimo aparecia no Oeste e fazia parte do elemento fogo.

Modimo também criou o céu, a luz, a terra e as raízes. Ele era único e singular. Ele não tinha antepassados, nem passado, nem futuro. Ele foi o responsável por toda a criação. Seu nome era tabu e só podiam pronunciá-lo os padres e os videntes.

 

 

Mito   da   Criação   Zulu

 

O Único Ancião, conhecido como Unkulunkulu, foi o criador Zulu. Ele surgiu dos juncos (uthlanga, significa fonte) . E, a partir deles, ele criou as pessoas e o gado.

Ele criou tudo o que existe: as montanhas, os rios, as cobras, etc.

Ele ensinou ao povo Zulu como caçar, como fazer fogo, e como cultivar os alimentos. Ele é considerado o primeiro homem e está em tudo o que ele criou.

 

Mitos de criação: Zulu, do Zimbabue, Youruba, Fans, Etiope, Banto, Ekoi, Efik, Dogon traduzidos e adaptados da Fonte: http://www.mythome.org/creatafr.html

 

 

Mito    da    Criação    Ashanti

 

Há muito, muito tempo atrás, um homem e uma mulher desceram do céu, enquanto outro homem e outra mulher saíram do chão da terra.

O Senhor do Céu também enviou um píton africana, uma cobra muito grande, que não é venenosa. Essa imensa cobra construiu sua casa em um rio.

Os homens e as mulheres deste começo do mundo não tinham filhos; eles eram amigos e não tinham nenhum desejo um pelo outro. Também não sabiam nada do processo de procriação e do nascimento de bebês.

Então a píton perguntou aos homens e `as mulheres se eles tinham filhos, e eles lhe disseram que não tinham nenhum.

Então, a píton se ofereceu para ajudar e lhes ensinou todas estas coisas.

A píton disse que faria com que as mulheres tivessem filhos.

Ela disse aos casais: Fiquem de frente, um para o outro! E,   então ela entrou no rio, encheu a boca de água. E espirrou essa água em suas barrigas, dizendo: Kush, kush (palavras que ainda são utilizados em rituais do clã). Em seguida, a píton recomendou aos casais que fossem para casa e se deitassem bem juntinhos. E aconteceu de as mulheres conceberam e darem à luz os bebes.

Estes carregavam com eles o espírito do rio onde a píton vivia com o espírito do clã. Membros desse clã sempre mantiveram a píton como um tabu; eles jamais poderiam matá-la, e se eles encontrassem uma píton, que tivesse morrido ou sido morta por outra pessoa, eles colocavam argila branca sobre ela e a enterravam numa forma humana. Assim, com braços e pernas, como se fosse gente.

E foi desta maneira que aqueles dois casais tiveram muitos e muitos filhos. E os filhos deles tiveram muitos outros filhos.

E o mundo começou a ser povoado de gente. Muita gente.

 

Mito de criacao Ashanti adaptado e traduzido da fonte: http://www.gateway-africa.com/stories/Ashanti_on_procreation.html

 

O      FUNERAL      DE      ANANSE

 

     Origem: Gana

             

Esta história quem me contava era a minha avó...

                No tempo em que todos os animais ainda viviam juntos, numa paz total,  havia uma aranha macho chamada Ananse.

                 Ananse morava em uma vila com seus parentes e todos os tipos de animais: a hiena, o porco, o esquilo,  o camaleão, o javali e muitos, muitos mais ...

                Ananse era um dos anciãos da aldeia, e um dia ele convocou todos os seus amigos e parentes para discutir como todos podiam fazer mais para ajudar uns aos outros.

              Todos eles eram agricultores, cuidavam da terra, e eles decidiram que seria uma boa ideia se todos eles, juntos, bem juntinhos, fossem um dos diferentes animais, a cada dia, a arar a terra, a tirar as ervas daninhas e a colherem o que fosse preciso, tanto nos campos ou em casa. Por exemplo, na segunda-feira, eles iriam começar na fazenda do tio de Ananse; na terça-feira, no sítio do seu avô e na quarta-feira seria a vez do seu sobrinho.

              Ananse ficou responsável por marcar os dias de trabalho numa agenda e ele fez com que todos se unissem e se ajudassem. Passado um mês, ele se sentou na varanda de sua casa e começou a pensar.

              "Estou pensando...”, Ananse disse para si mesmo, “eu acho que eu posso encontrar uma maneira de tirar vantagem disso tudo. Eu poderia fingir que estou doente para não ter que ajudar os outros, e quando estivesse tudo arrumado, eu iria fingir que tinha melhorado! "

              Assim, na manhã seguinte, Ananse ficou em sua cama, e quando seu sobrinho veio chamá-lo para trabalhar, ele falou: "Yoo Oo oo, meu querido sobrinho, este meu corpo está realmente doente hoje, acho que não vou poder ajudar a ninguém". O sobrinho de Ananse disse aos outros que o seu tio estava muito doente. E todos ficaram muito preocupados com a saúde de Ananse. Assim, eles decidiram que, no dia seguinte, todos iriam ajudar na fazenda de Ananse. Isso continuou por várias semanas. E a saúde de Ananse não melhorava de jeito nenhum...isso era o que todos pensavam.

                Um ou dois animais começaram a sussurrar: "Eu não me importo de ajudar na fazenda de Ananse, mas quando é que ele vai nos dar uma mão?" Ananse começou a ouvir as reclamações, e percebeu que não seria capaz de fingir por muito mais tempo. E resolveu aumentar a mentira. Então, ele  decidiu que teria que fazer algo para que todos acreditassem que ele estava realmente muito doente. No dia seguinte, ele chamou alguns de seus parentes, e disse-lhes: "Esta doença está me matando, e eu não consigo melhorar. Na verdade, eu me sinto pior a cada dia. Estou achando que eu vou morrer ". Alguns de seus parentes falaram: "Não, não, tio, você não vai morrer!" "Não, não, meu irmão, vou chamar o homem da medicina e buscar algumas ervas."

              Mas Ananse, fazendo uma voz bem fina, bem fraca, dizia que estava ficando mais e mais fraco, a cada dia, então ele começou a fazer seus preparativos para o funeral.

             "Quando eu morrer, disse, vocês devem me enterrar na fazenda do meu irmão Kwami. Eu sempre amei comer inhames, e eu gostaria de ser enterrado ao lado deles ".

               Kwami concordou que seu irmão poderia ser enterrado lá, nas suas terras. Afinal de contas, é muito difícil não conceder a um moribundo o seu último desejo. Ananse continuou dando suas instruções: eles deveriam cavar um grande buraco, e revestir as paredes com um pano, para que o espírito ficasse confortável. Eles deveriam, também, colocar panelas e utensílios de cozinha na sepultura, para que o espírito fosse capaz de preparar comida para si mesmo. Os parentes de Ananse começaram a trabalhar cavando a sepultura, enquanto o próprio Ananse continuava a fingir que a sua condição de saúde ia piorando a cada dia mais.

                 Logo ele descobriu que a escavação do túmulo havia sido concluída. Então, ele pensou que seria melhor que, no momento em que alguém se aproximasse de sua casa, ele fingiria que já estava morto. Alguns animais entraram em sua casa e tentaram acordá-lo, mas Ananse decidiu fingir-se de morto. Bem quieto e calado. Então, eles chegaram à conclusão de que ele devia estar realmente morto.

               No dia seguinte, eles pegaram o seu corpo e o colocaram dentro da sepultura, que, de fato havia sido preparada para ele, do jeito que Ananse os havia instruído. Havia panelas e utensílios de cozinha. Naquela mesma noite, Ananse saiu do túmulo e começou a recolher o inhame do campo para o esconder em seu túmulo. Ele cozinhou alguns deles. E fez até uma sopa com os inhames, que por sinal devia estar muito gostosa!

                 Quando a luz do dia se aproximava, Ananse se escondeu em seu túmulo, e dormiu. Na noite seguinte, ele recolheu mais inhames, e cozinhou muitos pratos diferentes. Isto continuou durante um mês inteiro. Mas Kwami percebeu que alguém havia roubado os seus inhames. Kwami  pensou e pensou muito e se perguntou: “Mas quem estaria fazendo isso comigo?”

                 Normalmente, ele teria suspeitado de Ananse, porque sabia que o seu irmão era muito astuto, mas agora Ananse estava morto, e ele simplesmente não conseguia entender quem mais poderia estar fazendo isso com ele.

              Kwami decidiu, então, montar uma armadilha. Ele foi procurar um carpinteiro, pois Kwami tinha alguns troncos de madeira fortes em casa. Ele e o carpinteiro espalharam estes troncos estrategicamente ao redor do seu campo de inhames, como espantalhos. Os espantalhos não assustavam ninguém, mas a armadilha deles era de alcatrão grudento.

             Kwami tinha certeza de que o ladrão, fosse quem fosse, se tocasse num dos espantalhos, ficaria grudado; ou deixaria uma marca, de algum tipo, pela qual ele poderia ser identificado.

              Naquela noite, quando Ananse saiu de sua tumba para roubar mais inhame de seu irmão, ele imediatamente viu uma figura de pé, ali, no meio do campo.

             "Oh, Oh”, ele pensou, “alguém está me observando!"

              Mas ele logo percebeu que a figura ficara ali, sem se mexer. Sua curiosidade o levou a subir na figura. Como o tronco não era muito alto, Ananse pensou que ali estava um menino. Então, ele decidiu pregar uma peça na criança, e disse a ele: "Eu vi a sua mãe a lhe procurar.  Ela disse que você tem que voltar para casa para jantar ".

              Mas não houve reação nenhuma do espantalho.

               Ananse repetiu: "Sua mãe está procurando por você! Você precisa jantar!”

                E nada, o espantalho não se mexia. Ananse ficou bastante irritado com a insolência da criança. E gritou: "Olha, eu estou falando com você, com você! Por que você não me responde? "

                Ananse não ouviu resposta alguma e ficou ainda mais irritado. "Você quer apanhar? Muito bem, vou bater em você,  e depois vamos ver o que acontece ". Com isso Ananse deu um grande tapa no espantalho, e sua mão ficou grudada no alcatrão. Ele puxou sua mão, mas ela não desgrudava de jeito nenhum.

               "Solte-me,” ele gritou. “Solte a minha mão! "

                Ele gritou para o tronco de madeira: "Solte-me ou eu vou lhe bater de novo!". E ele deu um tapa com a outra mão. E, assim, as suas duas mãos ficaram presas. Desta vez, Ananse ficou mais agitado e pulava de tanto que estava nervoso.

                "Eu vou te dar um bom chute, se você não me soltar!" Ele chutou o espantalho com o pé esquerdo, que também ficou preso. Ele chutou novamente com o pé direito,  que ficou preso também. Ananse estava, agora, totalmente preso ao espantalho. Ele tentou puxar o seu corpo de todas as formas, mas não adiantava nada. Ele continuava preso ali. No final, ele estava tão exausto, tão exausto, que  ele desistiu, e começou a chorar muito,  até que dormiu ali, todo grudado no alcatrão.

                 Quando o sol já estava alto no céu, Kwami, o irmão de Ananse,  veio passear em seu campo, ansioso para ver se o seu plano tinha funcionado. Ele olhou em volta com cuidado e viu que nenhum dos seus inhames havia sido roubado, de modo que parte do plano tinha funcionado. Sorrindo para si mesmo, ele deu a volta para verificar os troncos de alcatrão, quando avistou uma aranha, de longe, grudada num dos troncos. Ele correu para ver de perto e reconheceu seu irmão, Ananse.

              Kwami exclamou: "Ananse! Ananse! O que você está fazendo aqui? Eu pensei que você estivesse morto! "

             Ananse não se abalou e respondeu friamente:  "Ananse está realmente morto, é com o seu espírito que você está conversando!"

             Caro leitor, você, com certeza deve ter percebido que Kwami era bastante ingênuo, e também muito supersticioso, e um pouco medroso. Por isso, quando Kwami ouviu estas palavras, ele realmente acreditava que estava conversando com o espírito de Ananse.  

            Ele ficou tão assustado, que fugiu dali na mesma hora! Correu de volta para a aldeia, chamando todo mundo e relatou: "O espírito de Ananse! Eu vi o espírito de Ananse! "As pessoas se reuniram em volta dele, querendo saber mais. Kwami lhes disse que tinha visto o espírito de Ananse, preso a um tronco de alcatrão, que ele tinha colocado em sua fazenda.

           No mesmo instante, todos os moradores queriam ver isso, e foram correndo para a fazenda de Kwami. Lá, eles viram por si mesmos a figura de Ananse ainda colada ao tronco de alcatrão.

           "O que você está fazendo aqui”, alguns lhe perguntaram: “Você deveria estar morto. Nós enterramos você há pouco tempo! "

             "Você está olhando para o meu espírito!" Reclamou Ananse, que agora estava apavorado.  Os moradores também estavam com medo dele, e eles estavam prestes a fugir, quando Ananse gritou: "Parem, parem! Por que vocês estão fugindo? Eu sou da família, lembram? Não precisam ficar assustados! Agora, eu preciso que vocês me ajudem! Por favor!"

               Um dos homens mais valentes veio um pouco mais para perto, e perguntou: "Que tipo de ajuda você precisa, Ananse, meu irmão"

                Ananse respondeu: "Eu estou preso a este tronco de alcatrão, veja? E eu preciso de ajuda para me desgrudar disso! "

               Dois ou três deles, de muita coragem, começaram a puxar Ananse para fora dali. E Ananse ia lhes dando as instruções: "Puxem aqui... um pouco mais deste lado... um pouco mais forte do outro lado!"

                Mas um dos moradores, que estava puxando uma das pernas de Ananse, foi para trás e começou a coçar a cabeça. "Espere um minuto”, disse ele.  “Ele não é um fantasma! Este é o verdadeiro Ananse. Ele não está morto. Ele está aqui e está bem vivo!"

              Todos pararam de puxar na mesma hora.  "Sim”, disse outro, “como pode um fantasma, feito de vento, estar nos instruindo a puxar aqui e puxar dali?" Eles começaram a bater nele com paus, jogaram lama nele e falaram uma multidão de insultos. Depois de um tempo, Kwami teve pena do seu irmão e pediu para que todos parassem com aquela violência. Puxaram-no do tronco e o libertaram. Pediram para que ele fosse embora da vila, e que nunca mais aparecesse ali.

            Assim, Ananse foi proibido de viver naquele local, por todos os membros da sua família. A sua parentela ficou tão envergonhada do que ele havia feito, que eles também decidiram deixar a vila.

            E esta história continua a se repetir até os dias de hoje, pois sempre que você vê uma aranha, perceba: ela está sempre tentando se esconder em algum lugar, em uma rachadura no chão ou num canto escuro das paredes, porque ela ainda sente vergonha do que o seu ancestral Ananse fez.

 

História traduzida da fonte: http://fairytalesoftheworld.com/quick-reads/ananses-funeral/

 

 

                       Porque      o      siri      não      tem      cabeça

 

Origem: De Accra, Madina, Gana

 (História encontrada entre os papéis de John Fumey, o falecido pai do escritor)

 

                Há muito, muito tempo atrás, antes de o homem chegar e vir para perturbar o equilíbrio natural, todos os animais viviam juntos pacificamente. Mas naqueles dias, nenhum dos animais tinham cabeça, somente o elefante, que foi o rei dos animais.

                   Ele tinha uma grande coleção de cabeças de todas as formas e tamanhos, que ele mantinha armazenada numa grande caverna. Toda vez que um animal desejava deixar a aldeia para sair para o campo ou o mato, ele ia falar com o elefante, em primeiro lugar, e pedia emprestada uma cabeça. Na volta para a aldeia de animais, a cabeça era devolvida ao armazém do rei. Isso funcionou muito bem por um longo tempo. Mas o único problema foi que não haviam cabeças o suficiente para todos os animais. Ou acontecia de uma cabeça parecer sempre pequena, ou oval, ou achatada, ou grande demais. E, então, um ou outro animal sempre tinha que ficar para trás, na aldeia. 

                   Vez ou outra, os animais ficavam insatisfeitos, pois cada vez que queriam sair, eles tinham que perder tempo para escolher uma cabeça e, em seguida, devolvê-lo novamente.

                  O rei elefante, então, concordou em fazer uma reunião e decidiu-se que cada animal devia ter a sua própria cabeça e ficar com ela quanto tempo quisesse. O rei começou a fazer todas as mudanças, sempre auxiliado pelo seu secretário, o siri. E, quando tudo estava pronto e todas as cabeças estavam arrumadinhas, em fila, na praça da aldeia, ele chamou o galo. Não sem antes colocar nele uma cabeça de pele bem vermelha para anunciar a todos os animais que deviam vir para a praça para que o rei pudesse lhes dar uma cabeça definitiva.

                 O galo andou por toda a aldeia e cada um dos animais que ouvia a mensagem correu para o meio da praça. Quando o galo pensava que tinha informado a cada animal da notícia, e estava apenas fazendo o seu caminho de volta para a praça, o galo viu o siri, sem a cabeça, serpenteando por uma trilha em seu caminho até a margem do rio. O galo novo aconselhou-o a fazer o seu caminho de volta para a praça rapidamente, mas o siri não quis obedecê-lo: "Eu sou o secretário do Rei", disse ele, "o Rei vai guardar uma cabeça para mim, tenho certeza disso. Eu preciso tomar um banho rápido no rio. Daqui a pouco a gente se encontra". E ele foi passear. 

                 Na praça da aldeia, onde todos os outros animais se reuniram, o elefante começou a dar as cabeças a cada um. Ele tentou se certificar de que cada animal receberia uma cabeça que se adequava a cada estilo. Assim, o hipopótamo recebeu uma cabeça muito grande, bem gordinha; o rinoceronte ganhou uma cabeça com dois olhos ferozes; a girafa pegou uma cabeça longa, que combinou muito bem com o seu longo pescoço. Ninguém gostou muito da cabeça da hiena, pois ele ficou com a cabeça mais feia que havia. E o antílope, que pensava de forma graciosa, ganhou a mais bela cabeça.

                   A fila dos animais era grande. E por isso a reunião durou a manhã inteira, até que todos os animais ganharam a sua própria cabeça. Assim, o Rei agradeceu ao galo pelo seu belo trabalho, e já estava prestes a voltar para o seu palácio, quando o siri estava voltando do seu banho de rio: "Aonde você se escondeu", perguntou o Rei. "Eu acho que todas as cabeças já foram dadas, e não sobrou nenhuma para você!" 

                     O siri andou para a frente e para trás, de tão chateado que ficou. Mas, por mais que o siri esbravejasse, não havia nada mais a ser feito.

                    E essa é a razão pela qual até hoje o siri passa pela vida sem cabeça.

 

Traduzida da Fonte: http://fairytalesoftheworld.com/quick-reads/why-the-crab-has-no-head/
 

O      fazendeiro      esperto

 

História de origem: Eritreia

 

Um dia, um fazendeiro decidiu levar sua vaca ao mercado para ser vendida. Quando encontrou o comerciante, ele cumprimentou-o e disse que ele tinha uma vaca para vender. O comerciante lhe perguntou quanto ele queria pela sua vaca. O fazendeiro respondeu: "Cinquenta medidas de trigo". O comerciante começou a rir de tal preço, uma vez que a vaca só valia uma única medida de grãos.

Foi então que os dois, o fazendeiro e o comerciante, começaram a barganhar o preço. O problema é que os dois ficaram com os ânimos muito exaltados, até que começaram a brigar.

Uma multidão começou a se juntar em torno dos dois homens. Então, o fazendeiro disse que não era nenhum tolo, pois nenhum tolo saberia onde era o centro da terra ou quantas estrelas que havia no céu.

O comerciante ficou muito irritado e tentou dar um soco nele. Neste ponto, alguns homens que estavam no meio da multidão levaram ambos para o juiz,  para que ele pudesse decidir.

O juiz ouviu a versão dos dois homens, em seguida, virou-se para o fazendeiro e perguntou: "Tudo bem, se você é capaz de nos dizer o número de estrelas no céu e onde é o centro da Terra, então, aqui está a sua chance."

O fazendeiro fez uma pausa e tomou da sua bengala. Levantou-a bem alto e, em seguida, mergulhou-a profundamente no solo. "Este é o centro da terra", disse ele, "e qualquer pessoa que puder provar o contrário é bem-vindo a fazê-lo agora!".

Ele, então, se abaixou e pegou um punhado de pó da terra. "O número de estrelas que está nos céus é igual ao número de partículas de poeira que estão em minha mão. E qualquer um que puder provar que estou errado é bem-vindo para falar agora!"

O juiz entendeu que estava lidando com um homem muito inteligente. Então, naquele mesmo instante, ele ordenou ao comerciante que pagasse ao fazendeiro esperto as cinquenta medidas de trigo que ele tanto queria pela sua vaca.

História traduzida da fonte: http: sendacow.org.uk/lessonsfromafrica

 

 

 

Porque      o      Javali      fica      de      joelhos

 

 

História de origem: zulu

 

 

 

Oh Gogo”. O Pequeno Sipho perguntou aquela noite: “Você poderia nos contar a história do chacal inteligente de novo? ”

Sipho, cujo apelido era Mpungose Chacal, não se cansava de ouvir os contos da sua querida vovó.

"Hawu, Sipho". Vários de seus irmãos rangeram os dentes. "De novo não, pequeno chacal!". Logo, logo você vai cansar de ouvir as histórias de Mpungose!"

Gogo riu sua risada profunda. E, assim, todos os seus netos estavam rindo juntos com ela.

"Eu também amo as histórias do chacal", Gogo olhou para Sipho.

Mas nós não queremos fazer com que seus irmãos e irmãs fiquem surdos! Eu acho que eu sei de um outro conto que eu posso contar, sobre animais que são tão inteligentes como o chacal! ". É a história do...

Kwasuka suela...

O Javali construiu uma linda casa  num cupinzeiro, bem no lugar em que um porco do mato tinha abandonado. Ele fez uma entrada ampla. E, orgulhoso,  achava que possuía a casa mais bela da África. As vezes ele ficava com o focinho para fora da entrada da casa olhando as girafas, os gnus e as zebras indo para o bebedouro. "Hah", ele pensava consigo mesmo, "ninguém possui uma casa mais bela do que a minha!!!!”

Um dia, quando ele olhou para a entrada da caverna, ficou assustadíssimo quando viu  que um leão enorme  o estava perseguindo. Ele começou a se afastar, mas como ele tinha feito uma entrada muito grande na sua casa, o leão não teria dificuldade em pegá-lo.

"Ahhh", o Javali entrou em pânico, “Bhubesi vai me comer na minha sala de estar!”

O Javali decidiu usar o velho truque que ele ouvira de um  chacal que se gabava.  O Javali fingiu estar suportando o telhado de seu buraco com sua traseira pesada. "Socorro!",  ele gritou para o leão. "Eu vou morrer esmagado! O telhado está desmoronando! Foge daqui, oh, poderoso Bhubesi, porque você corre o risco de ser esmagado junto comigo!"

Como o leão não é nada tolo. Ele reconheceu o velho truque do Chacal ("Vocês se Lembram daquela história, crianças?"), e ele não ia mais ser pego novamente. Ele rugiu tão ferozmente que o Javali caiu de joelhos, tremendo de medo. O Javali implorou misericórdia. Felizmente, o leão não estava com muita fome. Assim, o leão perdoou o Javali e saiu dizendo: "Fique de joelhos, sua besta tola!"

O Leão riu para si mesmo e sacudiu a sua juba peluda, enquanto se afastava. Imagine: como um Javali, de raciocínio lento tenta copiar o truque do chacal!

É por isso que hoje em dia, a gente vê o javali comendo de joelhos, numa posição um pouco digna, com o seu traseiro para cima e o focinho fungando no pó.

 História traduzida da fonte: http: sendacow.org.uk/lessonsfromafrica

 

 

 Assim    como    as   moscas    e    as    aranhas

 

História de origem: Eritreia

 

“Mãe, eu odeio as aranhas e as moscas! ”, disse o príncipe. A rainha respondeu com a sua notória sabedoria: “Há um propósito para cada coisa que Deus criou”.

Mas, mesmo o príncipe sabendo que a sua mãe era uma mulher sábia, ele duvidou de suas palavras nesse tempo.

Antes de mais nada, que propósito poderia ter essas detestáveis criaturas? Ele continuou o seu dia, não pensando mais nisso.

             Um mês se passou e uma coisa muito horrível aconteceu. Houve uma rebelião no reino e a família do Rei foi assassinada. O único a escapar foi o jovem príncipe. Ele sabia que os seus inimigos estavam atrás dele e ele jamais conseguiria escapar. E, como ele sobreviveu, isso significaria que ele poderia reunir um exército para tomar o lugar do rei e governar.

        Então, ele decidiu partir e viver com um tio que morava longe dali. Escondido, ele começou a viajar de noite, através dos campos, pois somente assim ele não seria avistado.

          Mas ele descobriu logo que estavam atrás dele. Se ele se apressasse, ele poderia chegar em segurança na casa do seu tio.

         Assim, ele encontrou um lugar aberto com um pequeno bebedouro, onde poderia descansar e tomar um pouco de água. Os muitos dias de viajem o tinham deixado muito cansado, então, mais que de pressa, ele dormiu confortavelmente em cima de uma árvore.

           Poucas horas se passaram e uma mosca pousou em seu rosto. Ele a enxotou, mas ele voltou a dormir. Então, finalmente, enojado pela mosca ele abriu os olhos e viu os seus inimigos se aproximando ao longo do horizonte. Ele tinha dormido tão bem que não os ouviu se aproximando.

         Então, ele saltou da arvore e continuou a caminhar através do vale, o mais rápido que podia. Havia muitas cavernas nas colinas, então ele escolheu uma e entrou. Ele foi no fundo de uma caverna e se escondeu tão bem, que ninguém jamais o encontraria ali. O tempo passou e ele ouviu seus inimigos conversando, lá fora, perto da caverna.

          Um disse para o outro em voz baixa e raivosa: “ Nem se incomode em checar essa caverna, você não está vendo que está cheia de teias de aranhas? Ele não entraria aqui sem destruir as teias de aranha,  e como você vê, as teias não estão destruídas! Vamos sair e procurar nas outras cavernas”. Então eles partiram e continuaram a lhe procurar.

        O que aconteceu foi que,  logo após ele ter entrado na caverna, uma imensa aranha veio e teceu a sua teia na entrada da caverna.

        Na manhã seguinte o príncipe conseguiu escapar em segurança para ao casa do seu tio. E lembrou das palavras sábias da sua mãe: “Meu querido filho, há um propósito para cada criatura de Deus, mesmo para as moscas e aranhas.

 

História traduzida da fonte:

http: sendacow.org.uk/lessonsfromafrica

A Q U A L T U N E

cordel escrito por Jarid Arraes

 

Aqualtune era africana

Era princesa importante
Rei do Congo era seu pai

Homem mui preponderante

E por isso era criada Como parte bem reinante.

Lá no Congo era princesa
Pois vivia tal e qual
Mas haviam outros reinos
Dos quais Congo era rival
E por isso houve guerra
Com desfecho vendaval.

Na disputa dessa guerra
O seu pai foi derrotado
E vendidos como escravos
Foi seu reino humilhado
Mais de dez mil lutadores
Também foram enjaulados.

Aqualtune foi vendida
Em escrava transformada
Foi levada para um porto
Onde foi então trocada
Por moeda, por dinheiro
Pruma vida aprisionada.

Parou num navio negreiro
Que ao Brasil foi viajar
Nos porões do sofrimento
Muito teve que enfrentar
Pois não era ele cruzeiro
Que alguém fosse desejar.

Aqualtune com seu povo
Nos porões muito sofreu
Tinham febres e doenças
Pela dor que só cresceu
Era fome e era castigo
Muita gente padeceu.

Foi no Porto de Recife
Que o navio ali parou
Quando muito finalmente
No Brasil então chegou
Aqualtune novamente
Teve alguém que a comprou.

Foi vendida como escrava
Chamada reprodutora
Imagine o pesadelo
Que função mais redutora
Pois seria estuprada
De escravos genitora.

Sua principal função
Seria a de procriar
Estuprada na rotina
Muita dor pra suportar
Imagine uma princesa
Isso tudo enfrentar!

Foi levada a Porto Calvo
Pernambuco, a região
E vivendo como escrava
Enfrentou a solidão
Os castigos e torturas
Do seu corpo a agressão.

Imagine quantos filhos
Aqualtune teve então
Tudo fruto de estupro
Fruto de violação
E ainda eram tomados
No meio dum sopetão.

Mas na vida de tortura
Aqualtune ouviu falar
Sobre a pura resistência
Dos escravos a lutar
E ouviu sobre Palmares
O que pode admirar.

Aqualtune se empolgou
Do seu povo quis a luta
E pensou em se juntar
Pra somar nessa labuta
Mesmo estando em gravidez

Ela estava resoluta.

A gravidez já avançada
Não causou impedimento
Aqualtune foi com tudo
Formando esse movimento
De convicta esperança
E com muito entendimento.

Junto com outras pessoas
Negras de muita coragem
Aqualtune fez a fuga
Mesmo com toda voragem
Foi parar em um quilombo
E falou de sua linhagem.

Todos lá reconheceram
Que era ela uma princesa
E por isso concederam
Território e realeza
Para a brava Aqualtune
Bem dotada de certeza.

Nos quilombos do Brasil
Era forte a tradição
De manter vivas raízes
Africanas na nação
Aqualtune isso queria
Disso fazia questão.

Mas a sua importância
Muito mais se mostraria
Não se sabe com certeza
Mas pelo que se anuncia
Aqualtune teve um filho
E Ganga Zumba ele seria.

Segundo essa tradição
Foi avó doutro guerreiro

De imensa relevância
Para o negro brasileiro
Era Zumbi dos Palmares
Liderança por inteiro.

Aqualtune, infelizmente
Faleceu numa armação
Planejada por paulistas
Com fim de destruição
Do quilombo de Palmares
E de sua tradição.

Sua aldeia foi queimada
Pelos brancos assassinos
Não se sabe bem a data
Do seu fim e desatino
Mas a sua história viva
Para isso a descortino.

Quando ela faleceu
Bem idosa já estava
Aqualtune sim viveu
Como líder destacada
Essa força feminina
Que a princesa exaltava.

Eu só acho um absurdo
Porque nunca ouvi falar
Na escola ou na tevê
Nunca vi ninguém contar
A história de Aqualtune
E o que pode conquistar.

Uma história como a dela
Deveria ser contada
Em todo livro escolar
Deveria ser lembrada

No teatro e no cinema
Que ela fosse retratada.

Mas eu tive que sozinha
Sua história então buscar
Foi porque ouvi seu nome
Uma amiga então citar
E por curiosidade
Na internet procurar.

É por isso que eu escrevo
E o cordel quero espalhar
Pra que mais gente conheça
E também possa contar
Tudo que Aqualtune fez
Pois é tudo de inspirar.

A história do meu povo
Nordestino negro forte
É tão rica e importante
É vitória sobre a morte
Pois ainda do passado
Modificam nossa sorte.

Quando penso em Aqualtune
Sinto esse encorajamento
A vontade de enfrentar
De mudar neste momento
Tudo aquilo que é racismo
E plantar conhecimento.

 

Fonte:

http://www.geledes.org.br/aqualtune-princesa-no-congo-mas-escrava-no-brasil/

H  I  S  T  Ó  R  I  A  S      A  F  R  I  C  A  N  A  S

© 2016 por ORALIDADE BRASIL - A DIVERSIDADE DE UM PAIS  DE  MUITAS HISTORIAS. Criado com Wix.com

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