T E S S I T U R A B R A S I L
A D I V E R S I D A D E
D E UM
PAÍS D E MUITAS
H I S T Ó R I A S




H I S T Ó R I A S D O B R A S I L C O L O N I A L
CARLOTA JOAQUINA
– ou a história de uma princesa geniosa
Vou lhes contar a história da Princesa Carlota Joaquina, uma mocinha bem geniosa, e muitas vezes mimada, da história do Brasil e de Portugal. Ela nasceu no Palácio de Aranjuez, na Espanha, em 1775.Se você pensou em personagens como a Cinderela, a Branca de Neve e a Bela Adormecida...esqueça! A Princesa Carlota Joaquina não se parece nada com a imagem das princesas da ficção moderna. Ela possui uma história real e que não tem nada de comum. A começar pelo nome: Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Bourbon e Bourbon – uau, que nome extenso! Ela foi princesa da Espanha, de Portugal e, mais tarde, rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Ao contrário das princesas dos desenhos animados, Carlota Joaquina era descrita como uma mulher não muito bonita. Seu casamento não foi nenhum conto de fadas. E seu comportamento, em alguns momentos, era para lá de esquisito.Carlota Joaquina tinha uma personalidade difícil e sua vida foi cercada de histórias mirabolantes.
Era filha de um rei e de uma rainha e recebeu, desde criança, uma educação bem rigorosa. Mas, quando tinha apenas 10 anos – graças a um acordo político entre Portugal e Espanha –, teve seu casamento arranjado com João, então com 18 anos e um dos herdeiros do trono de Portugal. Imagine se casar aos 10 anos de idade!E, logicamente, este casamento não foi feliz e romântico, ou seja, o casamento não era nenhum conto de fadas: Carlota nunca demonstrou satisfação com o casamento arranjado.
Depois de muitas brigas, agressões físicas e traições (sim, essa violência já acontecia com as mulheres naquela época), o casal acabou indo morar em casas separadas, aparecendo juntos apenas em eventos públicos.Muitos diziam que Carlota Joaquina era uma mulher extremamente inteligente e ambiciosa. Irrequieta, sempre que possível tentava se inteirar e opinar nos assuntos reais, procurando influenciar as decisões de seu marido.
Mas ele não dava muita bola para os palpites dela, e isso causava muita confusão entre os dois.Insatisfeita com o pouco poder de decisão que tinha, a princesa tentou organizar secretamente uma conspiração, pois ela queria dar um golpe em seu marido, para tirá-lo do poder e tornar-se de vez a soberana de Portugal.
Para azar de Carlota, o seu plano foi descoberto, e ela só não acabou presa porque João queria evitar um escândalo na corte.Quando, em 1808, a família real portuguesa veio para o Brasil, Carlota viajou a contragosto. Pois ela não gostava do País e o chamou de "terra de negros e carrapatos". Quanto preconceito, não é mesmo? Uma vez aqui, ela se meteu em confusões e dizem até que esteve envolvida em um caso de assassinato (em 1820 manda matar a mulher do seu amante, Francisco Braz Carneiro Leão, por ciúmes). Descrita como "quase horrenda" por diversos historiadores, no momento de retornar à Europa também arrumou confusão: enquanto o povo pedia a João que assinasse a Carta Constitucional, a rainha se recusou. E juntou-se ao clero e à nobreza para tramar a Conspiração da Rua Famosa, movimento absolutista descoberto em 1822.
E não parou por aí… Ela voltou a conspirar contra o seu marido, desta vez para colocar seu filho preferido, Miguel, como representante máximo da Coroa – cargo que ele acabou mesmo assumindo após a morte do pai, embora o trono devesse ser, na verdade, de seu irmão Pedro, que na época já era imperador do Brasil.
Carlota foi deportada para o Palácio de Queluz, em Portugal. Afastada dos filhos e isolada, Carlota Joaquina morreu alguns anos depois, no dia 8 de janeiro de 1830, aos 54 anos, e está enterrada ao lado do marido, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Em Portugal, até hoje ela é conhecida como “a megera de Queluz”. De seu casamento com D. João VI nasceram nove filhos, dos quais três eram homens.Viram como a história de Carlota Joaquina é bem diferente das princesas das histórias da fantasia?







A LENDA DO PRESTE JOÃO E SEU REINO
- Ou o rei que todo mundo procurava e ninguém encontrava -

Essa história quem me contou foi a minha ama de leite, enquanto adormecia em seu colo.
Há muito tempo atrás, no mesmíssimo lugar onde se encontrava a Árvore da Vida, que fazia fronteira com o Paraíso, a apenas um dia de distância, morava um homem chamado Preste João.
Este lugar misterioso ficava na Etiópia e era guardado por uma serpente duas vezes maior que um cavalo, que tinha nove grandes cabeças e duas asas - que abertas faziam muita sombra num dia de sol quente.
A serpente ficava acordada o tempo todo, e somente dormia no dia de São João Batista, quando se podia recolher o bálsamo que a árvore produzia e do qual se faz o óleo sagrado.
Ela representava o próprio Preste João porque, nas palavras do livro: “...assim como essa árvore ultrapassa as outras em fruto e aroma, do mesmo modo a nossa pessoa neste mundo não tem semelhante nem igual. ”
E você sabe o que isso quer dizer? Que Deus fez uma pessoa diferente da outra. Ninguém tem um pé igual ao seu, nem uma unha igual a sua. Todas as pessoas, as milhões de pessoas, foram feitas diferentes umas das outras.
Pois bem, conta a lenda de Preste João, que um tal de Oto Babenger, um bispo de Freising e tio de Frederico I, o Barba-Ruiva, disse que havia uma fortaleza dos cristãos na Ásia, bem na fronteira com a Pérsia, que fez guerra, e saiu vitoriosa contra o mundo árabe.
O rei deste reino maravilhoso, que ganhava muitas outras guerras, quando todos as perdiam, se chamava Preste (ou Padre) João.
Preste João tinha um exército imenso. A sua milícia imponente levava “treze grandes e altas cruzes, feitas de ouro e de pedras preciosas e a cada uma delas seguiam dez mil soldados e cem mil peões armados...”
Com este poderoso exército, Preste João havia conquistado Ectabana, a capital persa, e outros tantos reinos.
O Bispo Oto de Freising contava, numa Carta, as maravilhas do reino de Preste João. Esta Carta se espalhou pela Europa. E todo mundo ficou bem curioso para conhecer o Preste. E muita gente passou a procurá-lo, em todos os cantos.
Mas lá no reino de Preste João, o homem que todo mundo procurava e que ninguém encontrava, as joias de ouro continuavam a correr pelos rios.
Dentro do seu palácio, a mesa de banquete abrigava todos os dias 30.000 pessoas sentadas, tamanha a abundância. Todos, cavaleiros, viajantes e andarilhos aventureiros podiam se sentar nesta mesa. Eles se alimentavam fartamente e depois partiam. Ganhavam cavalos, alimentos e roupas para seguirem pelas estradas, tudo doado pelo bondoso Preste João. É lógico!
No palácio ricamente decorado de Preste, o teto era de cedro, com cobertura de ébano. No cume havia dois pomos de ouro. As portas? Eram de sardônica. As janelas? De cristal. As mesas? De ouro e ametista com colunas de marfim.
Além disso, perambulavam, por todos os lados, naquele reino, seres fantásticos: havia bois selvagens, sagitários, homens selvagens, homens com cornos, faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos, gigantes, monóculos, ciclopes, uma ave que chamam de Fênix, que renasce imediatamente após morrer. Ou seja: quase toda a espécie de animais que existe debaixo do céu.
Mas a estes habitantes dos confins do mundo, ninguém poderia julgar pelas suas aparências, de fora, pois eles eram seres bem mais puros e benéficos do que os que habitavam as cidades. Talvez pelo fato de que alguns, por não terem cabeças, possuíam olhos bem pertinho do coração. Outros possuíam suas cabeças, mas elas os colocavam mais perto da Razão. A verdade é que tudo o que faltava no corpo, seja cabeça, ou pé, ou mãos era compensado por alguma coisa boa na alma. Todos eles tinham espíritos gentis, com bons corações, sendo sempre amigos e gentis, com um sorriso estampado no rosto, desde que se os via pela primeira vez.
Certa vez, um tal de Francisco Alves, um embaixador português enviado à Etiópia, no século XVI, diz que viu o Preste Joao, e assim o descreveu: “...e abriram as cortinas e subitamente vimos o Preste João, ricamente adornado sobre uma plataforma de seis degraus. Tinha em sua cabeça uma grande coroa de ouro e prata. Uma de suas mãos apoiava uma cruz de prata (...) À sua direita, um pajem apoiava uma cruz de prata bordada em forma de pétalas (...) O Preste João usava um belo vestido de seda com bordados de ouro e prata e uma camisa de seda com mangas largas. Era uma bela vestimenta, semelhante a uma batina de um bispo, e ia de seus joelhos até o chão (...) Sua postura e seus modos são inteiramente dignos do poderoso personagem que é.”
Preste João parecia mesmo ser um homem deslumbrante. Surpreendente? Assim se descreve melhor este homem! Imagine só: Preste João sempre aparentou ser jovem, apesar de ter 562 anos de idade! O segredo de ele viver tanto assim? Dizem que ele tomava banho, todos os dias, numa Fonte da Juventude, que somente ele sabia onde ficava. Parece que esta fonte ficava num bosque, no sopé do monte Olimpo, não muito longe do Paraíso de onde Adão havia sido expulso. Preste João falou sobre esta fonte numa Carta: “Se alguém beber em jejum três vezes dessa fonte, a partir desse dia nunca mais sofrerá de qualquer doença e será sempre, enquanto viver, como se tivesse trinta e dois anos de idade”.
Quando atingiam os cem anos de idade, os que moravam no seu Reino rejuvenesciam bebendo da água da Fonte, até completarem 500 anos, quando então morriam, e, como de costume, eram enterrados junto às árvores que possuíam folhas que nunca caíam e que eram duríssimas. Preste João falava que: “A sombra dessas folhas é agradabilíssima e os frutos dessas árvores de suavíssimo odor”.
Neste reino maravilhoso não havia corrupção, nem guerras, muito menos violência. O mal? Não existia naquele pedaço de terra. “Entre nós não existem pobres. Não existe nem roubo, nem rapina, nem o bajulador ou o avarento têm lugar aqui. Não há disputa entre nós. Os nossos homens abundam em todas as riquezas. ” Era um pedacinho do Paraíso. O céu na terra.
O problema era que Preste João se mudava muito de lugar. Ora aqui, ora ali. Vivia de lugar em lugar. E ninguém o encontrava.
E esta é a história de Preste João, uma história que parece não ter fim. Preste viveu, nos documentos, por mais de 72 lugares neste mundo sem nunca, jamais ter sido encontrado. Apesar de muitos terem gasto fortunas para encontrá-lo.
Mas a sua história e a vontade de o ter como aliado inspirou durante anos muitos portugueses e motivou uma série de viagens que foram muito importantes na época dos Descobrimentos.
História adaptada e baseada na Fonte: Carta do Preste João das Índias. Versões Medievais Latinas, 1998: p. 82.


